sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Gritos

Centenas de rostos humanos de todas as idades olham-nos desde as suas frias molduras. Gritos silenciosos. Gritos do horror. Gritos de vidas suspensas abruptamente desde aquela fresca manhã de Abril de 1995.

Eram as 9h00 de 19 de Abril. No edifício federal Alfred P. Murrah (Alfred P. Murrah Federal Building), era mais um dia que começava para centenas de pessoas das diversas agências federais ali instaladas. Mas também era mais um dia nas curtas vidas de dezenas de crianças na creche situada dentro do edifício. De súbito, o hálito mortífero de um camião-bomba. Ao mesmo tempo que o inferno subia ao céu, centenas de pessoas eram presas no caos assassino da derrocada. E América acordou para o terrorismo. O terrorismo interno, algo até então impensável para os norte-americanos.


Neste painel, o conjunto de fotos mostra o horror dos efeitos da explosão


À entrada dos jardins do Memorial, a vedação guarda a homenagem das pessoas às vítimas do atentado. Desde 1995 que todos os dias alguém deixa o seu testemunho de solidariedade



São coroas de flores, t-shirts, bonés, por vezes um simples porta-chaves



Familiares das vítimas mantêm viva a sua recordação



Uma comovente carta de despedida de duas crianças para sua mãe



No passadiço para a entrada do museu, placas de lousa integradas no chão e caixas de giz estão à disposição dos visitantes para escrevem mensagens de solidariedade


Crianças de todos os Estados Unidos e de todo o Mundo manifestaram a sua dor pelas crianças mortas no atentado, imprimindo as suas pequenas palmas das mãos em azulejos, parte dos quais estão expostos num murete à entrada do Museu do Memorial.


A algumas dezenas de metros do local da explosão situava-se a reitoria da paróquia católica de S. José, que ficou totalmente destruída. No seu lugar foi construído este monumento sob o título 'E Jesus Chorou'



Hoje, uma onda de emoção afoga-nos a garganta quando percorremos as salas do museu anexo ao Oklahoma National Memorial e, sobretudo, a galeria central com o recordatório das vítimas mortais. Com a perícia do uso de multimedia, neste museu são escalpelizados os momentos de horror vividos naquela manha primaveril. São relatos vivos e vividos dos sobreviventes, das testemunhas, das equipas de socorro. Aos poucos somos tomados pela realidade crua da violência, não importa de onde venha, no importa sob qual bandeira. Violência é violência e ponto final.

E o horror se descobre mais ainda, se tal é possível, quando nos damos conta de que por detrás de tantas mortes gratuitas e sem sentido estiveram apenas dois homens, Timothy Mc Veig e Terry Nicholas, convictos de insanos ideais de ódio e revolta.



O relvado perpetua o local onde se localizava a cresce, onde morreram 19 crianças


Ao fim da tarde, os meus passos soam pesados, pela borda do espelho de água entre os dois portais do memorial, onde estão gravados os três minutos da infâmia, das 9h00 às 9h03.


O jardim do memorial visto do lado Nascente. O bocado de parede à esquerda na foto é original da estrutura do Alfred P. Murrah Building






Ao meu lado, na relva do 'Campo das Cadeiras Vazias', que hoje cobre onde outrora foi o edifício Alfred P. Murrah, a luz do sol ilumina as esculturas de cadeiras de metal e vidro, cada uma das quais representando cada vítima. Com o seu nome inscrito e localizadas onde, nesse espaço geográfico, se situavam no momento fatal da explosão e consequente derrocada. Cada uma, uma presença silenciosa, desejando que o horror não se repita…




O Campo das Cadeiras Vazias, iluminado pelo sol da tarde


As cadeiras mais pequenas (a segunda a contar da esquerda, na foto) representam as crianças que foram vítimas


O grupo de cadeiras afastado da maioria, representam as pessoas que estavam na rua quanto atingidas pela explosão



Apesar desta imensa mensagem de dor, o Memorial é também um hino à sobrevivência, à capacidade de se recuperar do caos. Esse hino está expresso no grande olmo, com 90 ou 100 anos, cuidadosamente preservado. A árvore, situada onde então era o parque es estacionamento, sobreviveu aos efeitos da explosão em si e ao sequente fogo dos vários carros estacionados perto.

Com cicatrizes, ainda hoje visíveis, no seu grosso tronco, com a maior parte dos seus ramos queimados pelas chamas, o velho olmo sobreviveu, grito de esperança no renascer da Vida!





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