terça-feira, 31 de março de 2009

Férias Solidárias - Sahara Ocidental 3 Notas prévias

Vale do Dra - fronteira norte da expansão Saharaui


Apontamentos sociológicos.

A sociedade tradicional saharauí, caracterizada pelo nomadismo, dividia-se em dois grandes grupos tribais:
'Hasan' ou 'Arab' - mais próximas da ascendência árabe, mais agressivas e marcadas pela violência e o orgulho. Estabeleceram-se na zona do Rio do Ouro. Neste sub-grupo encontravam-se ainda os 'Cherif' ou Santos, ramo que se considerava descendente do profeta Mahomé.
Zuaia - Gente dos Livros. Elite intelectual de juriscônsultos e peritos corâmicos que viviam sob protecção dos Hasan.

Aparte estes dois grandes grupos tribais existiam ainda várias tribos não guerreiras, estabelecidas nas zonas dos pastos costeiros e que pagavam tributo aos Hasan.

Economia

Até ao Séc. XIX os Saharauís caracterizavam-se por uma economia não monetária, típica dos povos nómadas: não capitalista e baseada na troca, com a a riqueza assente em seres vivos: camelos, ovelhas, cabras e escravos, bem como pequenos objectos valiosos: jóias e vestidos, completados por objectos funcionais: armas e utensílios domésticos.
A divisão da terra, por sua vez, era comunitária.

Cultura

A estrutura político-social saharauí caracterizava-se pela unidade da língua, literatura, direito e costumes.
A 'época de ouro' da produção literária saharauí situa-se nos Séc. XVIII e XIX com os trabalhos dos eruditos de Tiris, do grupo Zuaia.

A Literatura Popular assenta na estrutura 'Lejna' (poesia), enquanto que o conto popular baseia-se no entorno geográfico e estilo de vida nómada: tempo por fundo o deserto e os seus oásis, por companheiro o camelo, é salientado o valor do homem ao enfrentar as condições hóstis e a sua inteligência para encontrar soluções. O conto sofre ainda da influência moralizadora da religiosidade islâmica e é caracterizado também pela erupção milagrosa, criando uma estrutura de relatos de feitos guerreiros cruzados com a fantasia oriental.

A Música tem também características próprias: instrumentos particulares e um ritmo característico. havendo ainda a tradição do ' Iggauen' - o trovador que dirige um concerto individual, sempre composto de cinco partes distintas.

Administração

A divisão administrativa saharauí assentava na 'Yemaa' - Assembleia de Notáveis, com poder máximo não só administrativo, como legislativo e governativo. Caracterizava-se pela forma democrática de tomada da decisões e a não aceitação dessas decisões implicava a expulsão do grupo social.

Nas tribos grandes existia ainda a figura do 'Sej', que dirigia cada secção da tribo. O seu pestígio advinha-lhe da sua ascendência, sabedoria e religiosidade. Ao mesmo tempo era um chefe de guerra, mas apenas com carácter executivo e submetido às decisões da Yemaa.

Vida social

O centro da vida social tradicional saharauí situava-se na 'Jaima' o lar, local sagrado de protecção por excelência. A amabilidade das famílias caracteriza-se pela oferta aos visitantes do melhor que havia entre os parcos víveres.

A alimentação assentava no leite de camela e/ou de cabra e na farinha de cevada, mais tarde substituída pela de trigo europeu. Em momentos especiais era consumida alguma carne. A alimentação completava-se com algumas verduras e frutos do entorno desértico.
Outra característica era a do grande consumo de chá e de açúcar, como forma de manter a hidratação e a tensão arterial.

Ocupações:

A ocupação espanhola ocorre a partir de 1884, na sequência da Conferência de Berlim, que institucionalizou o colonialismo europeu em África, com a partilha, praticamente a régua e esquadro, do continente africano entre as principais potências europeias. Marrocos, então uma nação independente, não se opõe à colonização espanhola, já que e na verdade, as populações entre os rios Dra e Sus (Junto ao Cabo Branco) constituíam o 'Beld Siba' - território insubmisso ao Sultão de Marraqueche.

As pretensões de Marrocos sobre o Sahara Ocidental só existem a partir de 1957, com a restauração da independência marroquina, em relação à ocupação francesa e agudizam-se em 1975, com a 'Marcha Verde' - a invasão marroquina aparentemente pacifista, da colónia espanhola do Sahara Ocidental, após o abandono da potência colonizadora.

Acampamento de refugiados saharauís de Dakhla, Sul da Argélia

Para saber mais sobre o Sahara Ocidental, ver: http://es.wikipedia.org/wiki/S%C3%A1hara_Occidental

2 comentários:

  1. vou estar aqui a ver o que acontece...
    cheia de curiosidade e a apoiar à distância!

    ResponderEliminar
  2. Muito interessante!Beijinhos.

    ResponderEliminar