quinta-feira, 14 de maio de 2009

Trilha da Liberdade - Crianças

O melhor do mundo são as crianças, escreveu o poeta.
Olhas à tua volta nos acampamentos e não vês riqueza.
Se o deserto tem o seu sortilégio, também tem o seu custo e bem elevado.
Olhas à tua volta e apenas vês os tons acastanhados da terra. Aos teus olhos europeus falta-te o verde das florestas o colorido das flores nos prados.
Apesar desta desolação, as pessoas sobrevivem. As flores estão lá: chamam-se crianças.



(Gaili, dois anos)


As crianças são iguais em todo o mundo: traquinas e com as cabecinhas cheias de sonhos.

( Hengia, sete anos)

(Hacima, 9 anos)


(Hengia)
(Sânia, seis anos)

"Esta noite sonhei com estradas cheias de carros para Portugal", conta-nos Sarah, oito anos, uma das crianças da 'minha' família de Dahjla, o acampamento sharauí mais pobre e isolado nos confins do deserto do suoeste da Argélia, já a escassas dezenas de quilómetros da Mauritânia. Na véspera, Sarah tinha visto, pela primeira vez da sua vida, portugueses, nós, que ficámos hospedados na 'jaima' da sua família.

(Sarah e os seus dois irmãos mais novos: Sânia e Gaili)


E como este, outros sonhos em muitas crianças. As crianças que pela manhã víamos caminhar para a escola, em pequenos grupos, por vezes com mochilas às costas, mochilas quase maiores que os seus pequenos corpos.


E como este, outros sonhos em muitas crianças, aquelas que vimos nas aulas, de volta com os seus afazeres escolares, e que pelos arruamentos corriam até nós a pedir rebuçados e balões.
Sonhos de crianças pasmados nas folhas de papel dos seus trabalhos esolares, outras vezes, sonhos herdados de uma memória colectivel terrível, dos tempos de guerra, que mutilou seus pais, seus irmãos mais velhos, seus avós.

Crianças que, como todas as crianças do mundo fazem traquinices, brincadeiras, canções e que dançam,

mas que ao mesmo tempo, sonham com os brinquedos que nunca terão.



Perguntei uma vez a Sarah e à sua pequena irmã, Sanya, de seis anos, o que gostariam de ter. Responderam-me "bonecas que falassem".
"Essas bonecas custam muito dinheiro, prefiro que me mandes esse dinheiro para eu comprar comida para os meus filhos", diz por sua vez, Ayle, a mãe das suas meninas, com um certa tristeza na voz.

(Ayle prepara o tradicional chá sob o olhar do filho Gaili, de 2 anos)

Mas porquê as crianças, meu Deus?



1 comentário:

  1. Parabéns, Luz Portuguesa!

    Conseguiu captar a razão fundamental desta luta pelos direitos humanos, pelos direitos dos povos:as Crianças

    A primeira condição para a realização do projecto de vida e de felicidade de qualquer ser humano é a conquista do direito à identidade, conhecer e ver respeitadas as suas raízes familiares, históricas, culturais.

    Identidade que pretendem abafar os colonizadores.
    O direito à autodeterminação do povo sharauí é condição essencial para a realização dos direitos humanos das suas crianças.

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