domingo, 3 de maio de 2009

Trilha da Liberdade - Caravana da Solidariedade com o Sahara Ocidental. 'Hola, soy Lamira'

Dahjla ao cair da tarde. A lua ergue-se já, ainda o sol não acabou de se pôr


A wilaya é um conjunto de tendas, casas de adobe, currais, edifícios administrativos e algumas lojas


Dahjla. Na noite luarenta cortada pelos focos dos faróis das viaturas, Dahjla é uma expansão de casas de adobe e das jamaias - estas enormes tendas familiares, símbolo nacional e, ao mesmo tempo, recordação dos tempos de nomadismo - e de pequenos currais circulares para as cabras.
No meio da noite, Dahjla, sem luz eléctrica, é uma wilaya adormecida. Mas não na totalidade.

O conjunto familiar da jamaia - a tenda familiar - e as construções de adobe, que delimitam o espaço íntimo de cada família

Os jipes detêm-se no centro da vila. Batem-se portas, há um vozear: em português e em hassani - a versão árabe dos saharauis. Uma imagem nova e mil vezes repetida, desde tempos imemoriáveis, quando chegavam as caravanas às tribos. Dantes o ronco dos camelos, agora o ronco dos motores dos carros, mas dantes como hoje, o vozear alvoraçado de quem chega, de quem espera.
Das sombras agita-se uma mole humana. Aos poucos, como uma onda, ganham forma os vultos das mulheres que, envoltas nos seus mandos, esperam pacientemente a nossa chegada. Durante vários minutos esta agitação nocturna domina. Tiram-se as bagagens do carro que as transportava. Organizam-se os grupos e, aos poucos, cada grupo, do total dos 43 elementos da Caravana, vai com a mulher da família em que fica alojada.
Fico para o último grupo. Somos a Vanessa, a Joana e o Francisco, o Zito e eu. Pela escuridão, iluminada apenas pelas lanternas de mão, seguimos o vulto sereno, quase silencioso, da mulher de rosto fechado, envolta no seu manto, que caminha com dignidade até uma casa nos limites da povoação, ao lado de um edifício grande, de paredes com contrafortes, a testar a solidez da construção, pintado de branco e amarelo.


Na noite iluminada por uma lua quase cheia, surge a massa da casa onde vamos ficar. Silenciosa. Misteriosa para os nossos olhos ocidentais virgens desta nova realidade.

A construção sólida com contrafortes ao lado da nossa casa e que mais tarde soubemos ser uma das escolas. Interessante o cuidado posto nos edifícios de carácter público.

A mulher indica-nos, com um gesto, a casa de adobe, de janelas quase ao rés-do-chão e porta com degrau alto. Do lado de dentro, uma jovem, envolta no manto recebe-nos à porta da casa: "Hola, soy Lamira".

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