segunda-feira, 18 de maio de 2009
Trabalho de formiga
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Trilha da Liberdade - Crianças
Olhas à tua volta nos acampamentos e não vês riqueza.
Se o deserto tem o seu sortilégio, também tem o seu custo e bem elevado.
Olhas à tua volta e apenas vês os tons acastanhados da terra. Aos teus olhos europeus falta-te o verde das florestas o colorido das flores nos prados.
Apesar desta desolação, as pessoas sobrevivem. As flores estão lá: chamam-se crianças.
As crianças são iguais em todo o mundo: traquinas e com as cabecinhas cheias de sonhos.
( Hengia, sete anos)
(Hacima, 9 anos)
"Esta noite sonhei com estradas cheias de carros para Portugal", conta-nos Sarah, oito anos, uma das crianças da 'minha' família de Dahjla, o acampamento sharauí mais pobre e isolado nos confins do deserto do suoeste da Argélia, já a escassas dezenas de quilómetros da Mauritânia. Na véspera, Sarah tinha visto, pela primeira vez da sua vida, portugueses, nós, que ficámos hospedados na 'jaima' da sua família.
(Sarah e os seus dois irmãos mais novos: Sânia e Gaili)
E como este, outros sonhos em muitas crianças. As crianças que pela manhã víamos caminhar para a escola, em pequenos grupos, por vezes com mochilas às costas, mochilas quase maiores que os seus pequenos corpos.
E como este, outros sonhos em muitas crianças, aquelas que vimos nas aulas, de volta com os seus afazeres escolares, e que pelos arruamentos corriam até nós a pedir rebuçados e balões.
Sonhos de crianças pasmados nas folhas de papel dos seus trabalhos esolares, outras vezes, sonhos herdados de uma memória colectivel terrível, dos tempos de guerra, que mutilou seus pais, seus irmãos mais velhos, seus avós.
Crianças que, como todas as crianças do mundo fazem traquinices, brincadeiras, canções e que dançam,
mas que ao mesmo tempo, sonham com os brinquedos que nunca terão.
Perguntei uma vez a Sarah e à sua pequena irmã, Sanya, de seis anos, o que gostariam de ter. Responderam-me "bonecas que falassem".
"Essas bonecas custam muito dinheiro, prefiro que me mandes esse dinheiro para eu comprar comida para os meus filhos", diz por sua vez, Ayle, a mãe das suas meninas, com um certa tristeza na voz.
(Ayle prepara o tradicional chá sob o olhar do filho Gaili, de 2 anos)
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Trilha da Liberdade - Sorrisos









O sorriso é doce, apesar de olhar pátria estranha.
O sorriso é doce, apesar de olhar o seco mais seco do seco deserto.
O sorriso é doce, apesar do estômago vazio.
O sorriso continua a ser doce, mesmo quando se privam do pouco que têm,
para ao estrangeiro oferecer o seu melhor.
Em nome da hospitalidade e da honra de receber.
O sorriso é doce, apesar de tudo,
porque é um sorriso saharauí...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
É carma!
domingo, 3 de maio de 2009
Trilha da Liberdade - Caravana da Solidariedade com o Sahara Ocidental. 'Hola, soy Lamira'
Os jipes detêm-se no centro da vila. Batem-se portas, há um vozear: em português e em hassani - a versão árabe dos saharauis. Uma imagem nova e mil vezes repetida, desde tempos imemoriáveis, quando chegavam as caravanas às tribos. Dantes o ronco dos camelos, agora o ronco dos motores dos carros, mas dantes como hoje, o vozear alvoraçado de quem chega, de quem espera.
Das sombras agita-se uma mole humana. Aos poucos, como uma onda, ganham forma os vultos das mulheres que, envoltas nos seus mandos, esperam pacientemente a nossa chegada. Durante vários minutos esta agitação nocturna domina. Tiram-se as bagagens do carro que as transportava. Organizam-se os grupos e, aos poucos, cada grupo, do total dos 43 elementos da Caravana, vai com a mulher da família em que fica alojada.
Fico para o último grupo. Somos a Vanessa, a Joana e o Francisco, o Zito e eu. Pela escuridão, iluminada apenas pelas lanternas de mão, seguimos o vulto sereno, quase silencioso, da mulher de rosto fechado, envolta no seu manto, que caminha com dignidade até uma casa nos limites da povoação, ao lado de um edifício grande, de paredes com contrafortes, a testar a solidez da construção, pintado de branco e amarelo.
A mulher indica-nos, com um gesto, a casa de adobe, de janelas quase ao rés-do-chão e porta com degrau alto. Do lado de dentro, uma jovem, envolta no manto recebe-nos à porta da casa: "Hola, soy Lamira".