quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Referendo para tudo ou só para o que interessa. A hipocrisia dos partidos
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Mais igrejas que bares...
Holy Family Church - Catedral católica. Interior.
Tulsa tem mais igrejas que bares, costumo dizer e, possivelmente, não andarei muito longe da realidade.
Não sei ao certo quantas igrejas a cidade tem.
Não só os templos pertencentes às grandes igrejas, sejam baptistas, luterana, católica, episcopal, ortodoxo, etc, mas todo um vasto conjunto de pequenas igrejas evangélicas mas que se proclama de carismáticas independentes.
O que talvez não seja para admirar, já que Tulsa é a capital do Bible Belt, esta cintura de cristãos evangélicos do Midlewest e Sudeast dos Estados Unidos.
Na última edição do jornal "Tulsa World", foi publicado o 'ranking' das igrejas mais populares da cidade, num artigo da autoria de Bill Sherman.
No estudo publicado e nos últimos dez anos, a "Church On te Move" , com uma liderança pastoral renovada e assente em jovens ministros, continua a ser a maior congregação, com entre 9.000 a 11.000 fiéis, a que se segue a Victory Christian Center (9.612 fiéis) e a Rhema Bible Church, na cidade periférica de Broken Arrow, com 5.500. Todas, igrejas independente carismáticas, o que quer dizer que, não estando submetidas a nenhum ramo das igrejas cristãs, são senhoras das suas decisões, reclamando para si, porém, uma prática convicta, imediata e sensível do cristianismo, através de uma leitura directa do Evangelho.
Nesta lista, tal como há dez anos, contam-se três igrejas católicas, embora as deste estudo não sejam as mesmas do primeiro. O que se nota é crescimento das paróquias católicas de raiz hispânica, devido à missiva imigração mexicana para os Estados Unidos, com um total de 7,000 paroquianos inscritos e frequentadas por muitos outros não inscritos.
Nesta panóplia de templos e denominações, há por exemplo a igreja de Batle Creek, em Broken Arrow, uma congregação da Igreja Baptista Sulista, dedicada a todos aqueles que não estão filiados em nenhuma outra igreja. "Tulsa tem imensas grandes igrejas para as pessoas envolvidas" disse ao "Tulsa World" o pastor Alex Himaya, que lidera a congregação, acrescentando: "Decidimos ser uma igreja para as pessoas desligadas das outras igrejas. Nós dizemos que se você é perfeito, não tem lugar na nossa igreja. Mas se você é imperfeito, podemos ser a igreja perfeita para si".
Nesta lista das paróquias hoje mais populares, consta a curiosa igreja "Lifechurch.tv", ministério baseado em três templos onde, no serviço religioso de todos os domingos, é escutada a mesma mensagem difundida por vídeo em directo.
Por sua vez, a "Guts Church", também independente como a "Lifechurch.tv", tem um ministério informal, com os pastores a pregarem em jeans e botas e com música contemporânea. Uma prática hoje em dia seguida por muitas outras igrejas, como a Igreja de Jenks, da família da Igreja de Cristo.
Como pano de fundo de todas estas igrejas que se reclamam herdeiras do Cristianismo primitivo talvez esteja aquilo que a pastora Sharon Daugherty, tão bem descreveu ao "Tulsa World": "Acredito que estamos aqui para ajudar as pessoas a ligarem-se a Deus e umas às outras. O que, nossos dias, é cada vez mais crítico".
E não será isto o papel das igrejas?
sábado, 26 de dezembro de 2009
Uma capela nas montanhas
Uma pequena placa indica-nos o local.
Subimos por uma íngreme pequena estrada e chegamos ao parque.
Ao fundo desse parque está a capela. E a respiração se corta com a ousadia arquitectónica. Estamos frente à Thorncrown Chapel (Capela da Coroa de Espinhos).
Por entre os ramos das árvores, despidos pelos frios do Outono, antevemos a paisagem soberba de Ozark. Aqui, tudo é paz e beleza.
Foi esta paz e beleza que levou o professor Jim Reed a comprar, em 1971, aquele terreno para construir a casa onde pensava viver depois de aposentado. A localização do terreno, por sua vez, motivava os viajantes a entrar por ali adentro para admirar as vistas desde aí. Com a afabilidade própria dos habitantes do Midlewest, Jim Reed em vez de lhes proibir o passo, os convidava a entrar. E, um dia, enquanto subia a colina, surgiu-lhe a ideia de construir aí uma capela de paredes de vidro, local de meditação e de pacífica inspiração.
Um sonho que começou a ganhar forma, quando Jim Reed encontrou-se com Fay Jones, arquitecto e professor na Universidade de Arkansas, em Fayetteville que, para surpresa de Jim, prontamente aceitou a proposta de desenhar a capela.
A 23 de Março de 1979 foi lançada a primeira pedra, mas quando o projecto estava a meio, adveio uma grave crise com os fundos disponíveis a esgotarem-se e sem se conseguirem novos financiamentos.
Foi quando Jim, já convencido do falhanço do projecto, ao visitar, no que pensava ser a última vez, o local, foi tocado por uma centelha divina, qual profeta do Antigo Testamento e caindo de joelhos no solo da futura capela, rezou seriamente, compreendo, segundo as suas palavras, como a adversidade por que estava a passar lhe dava a humildade de estar de joelhos e de joelhos orar. E dias depois, o empréstimo de uma senhora de Illinois, permitiu a Jim terminar a capela, que foi inaugurada a 10 de Julho de 1980. Desde daí já teve 5 milhões de visitantes.
Olhar esta construção de quase 15 metros de altura, de ferro, pedra e lajes da região e com grandes paredes de vidro, numa área de quase 600 metros quadrados, é admirar uma impressionante jóia da moderna arquitectura, onde a obra humana se interliga com a obra da Natureza.
Desde o seu interior, toda a estrutura adquire leveza, criando um ambiente convidativo à meditação, a deixar o espírito viajar livremente pelos seus insondáveis caminhos…
Não admira, pois, que a construção tenha ganho, logo em 1981, o prémio anual do American Institute of Architectures's Design(AIA) e o prémio da década do mesmo Instituto, bem como tenha sido colocada em quatro lugar na lista dos mais belos edifícios do Século XX do AIA.
"A historia real de Thorncrown Chapel é que todos nós temos uma 'capela' nas nossas vidas. Os degraus para construir o nosso sonho estavam bem definidos - tivemos de submeter a nossa vontade a Deus através de Cristo, e então tivemos o nosso 'sonho'. Estamos completamente convencidos que é um sonho de Deus e o plano para nós trabalharmos, trabalharmos, trabalharmos e capaz de se tornar verdadeiro", dizem, no folheto de divulgação, os responsáveis pela capela nas colinas de Ozark.
Olhando esta capela, sinto-a como um incentivo do que podemos fazer nas nossas vidas, de cumprir os nossos sonhos. Sem dúvida, um local de paz e inspiração…
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Branco Natal
Toda a noite rugiu o vento.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Luzes de Natal
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
El Álamo, berço do Texas
Uns 40 anos depois, é com emoção que estou no lugar da sua morte, na antiga missão de San Antonio de Valero, também conhecida por Álamo, na actual cidade de San Antonio de Texas.
San Antonio de Valero começou por ser uma missão de Franciscanos espanhóis, dedicada a Santo António de Pádua - o nosso Fernando de Bulhões, nascido em Lisboa e falecido em Pádua sob o nome religioso de António - e ao vice-rei Marquês de Valero, que apoiou política e financeiramente a criação da missão, destinada à educação e conversão dos índios ao Cristianismo.
Recriação artística do que deveria ter sido a vista dos claustros desde a janela de uma das celas monacais
El Álamo, em Abril de 1836 é um dos principais episódios da História do Texas e marcou o grande momento aglutinador que levou à independência da República do Texas face ao México. Embora os seus protagonistas principais tenham sido os texanos, na sua maioria colonos dos vizinhos Estados da União (futuros USA), e o exército mexicano, comandado pelo general Sant'Anna - cujo primeiro nome, ironicamente, era também António de Pádua -, não se pode dizer que esta tenha sido uma guerra entre México e USA.
Há que ir à História interna do México e entender o episódio dos movimentos centralista versus federalista para se compreender o porquê da vontade de independência do Texas. Uma vontade que também foi expressa por outros Estados mexicanos, como Yucatan (em 1841 e só integrado na República Federal do México em 1848) e como Zacatecas (em 1835 e cedo sufocado pela brutalidade de Sant'Anna).
Só depois do Texas integrar a União norte-americana de Estados, em 1845, é que este conflito toma outras proporções, levando à derrota do México e consequente concessão dos territórios da Califórnia, Utah e Nevada, bem como de partes is actuais Estados do Colorado, Arizona, Wyoming e Novo México, pelo Tratado de Guadalupe Hidalgo. Uma perda de território a troco de 15 milhões de dólares na época (hoje cerca de 349,5 milhões) bem como da assumpção por parte dos USA do pagamento dos mais de 3,5 milhões de dólares (uns actuais 81,55 milhões) de dívidas dos próprios mexicanos a cidadãos norte-americanos. As restantes áreas do Arizona e do Novo México foram adquiridas pelos USA, posteriormente, por 10 milhões de dólares, equivalentes a 233 milhões hoje em dia. O que é interessante: um país vencedor de uma guerra pagar uma choruda indemnização ao país vencido. Só mesmo os USA!
Rendição do general Sant'Anna (deitado sobre a manta, debaixo da árvore) ao exército dos Estados Unidos - quadro no Capitólio de Austin, Texas
Mas voltemos a Álamo. Em 1793, Espanha secularizou 5 das suas missões religiosas no México, sendo Santo António de Valero uma delas. As suas terras foram distribuídas pelas famílias indígenas aí residentes, à sombra do convento franciscano. Nos inícios de 1800, o exército estabeleceu aí uma unidade móvel de cavalaria para policiamento e defender a região dos ataques dos índios. É a partir de então que o local começa a ser conhecido por Álamo, quer devido aos álamos (vidoeiros) aí existentes, quer em honra à povoação de Álamo de Parras, no actual Estado mexicano de Coahuila, de onde provinha esta unidade volante de cavalaria. Foi também aí criado o primeiro hospital de que há registo no Texas.
Gravura sobre o aspecto de Álamo na altura da revolta texana
Desde esse período e até 1835, o próprio governo colonial espanhol e posteriormente o governo mexicano, estimulou o estabelecimento de colonos dos vizinhos USA, para desenvolvimento económico da região. São estes colonos que na questão do centralismo versus federalismo mexicano, defendem o Texas independente e federado no México, melhor capaz de gerir o seu destino, face aos longínquos e corruptos políticos de um país centralizado na sua capital, Ciudad do México.
As pretensões independentistas do Texas inserem-se ainda no movimento independentista mexicano, face a Espanha, e vivido na década anterior. É nesse contexto que cerca de 170 rebeldes texanos, quer de origem latina e índia (tejanos), quer de origem anglo-saxónica (texans), ocupam, em Dezembro de 1835 a antiga missão de Álamo.
A resposta a esta ocupação é a mobilização de um exército mexicano de vários milhares de soldados, comandados pelo general Sant'Anna, que cercam Álamo a partir de 23 de Fevereiro de 1836, exigindo a rendição incondicional (o que implicava a morte) dos revoltosos. A resposta ao ultimato foi um tiro de canhão, disparado pelo próprio comandante rebelde, tenente-coronel William B. Travis, a que se seguiu um cerco com combates permanentes durante 13 dias.
William B. Travis - Capitólio de Austin, Texas
David Crocket - Capitólio de Austin, Texas
Pintura do Século XIX sobre o assalto a Álamo pelo exército mexicano
Os texanos, em que Travis foi auxiliado no comando por Jim Bowie, um rufião reputado no manejo da sua grande faca, e por David Crocket, já famoso pelas suas aventuras na fronteira e como político do Tennessee, resistiram sempre com esperança nos reforços, que só demasiado tardiamente chegaram ao local.
O assalto final das tropas mexicanas ocorreu na madrugada de 16 de Março. Canhoada, luta corpo-a-corpo ainda no lusco-fusco e foi ao nascer do sol que um vitorioso e brutal Sant'Anna entrou no pátio devastado de Álamo. Uma vitória que, todavia preparou a derrota final dos mexicanos, já que permitiu tempo ao Texas para se organizar política e militarmente, afim de continuar a guerra contra o México e alcançar a sua independência.
Sob estas árvores, hoje num parque ajardinado, foram queimados todos os cadáveres dos defensores de Álamo. Diz a tradição que nunca mais deram fruto.
O massacre de Álamo - onde todos os cadáveres foram incinerados sob a ordem de Sant'Anna, impedindo sepultura, mas também uma medida expedita contra a contaminação - foi o agente aglutinador para os combates seguintes: 'Lembrar Álamo' passou a ser o grito de libertação dos texanos e a antiga missão ganhou um estatuto maior simbólico, como o santuário da Liberdade de Texas!
A História contada numa maquette
Maquette do combate de Álamo, ataque à fachada da igreja
Pormenor das barricadas no pátio da missão
O assalto às dependências anexas, na fuga os texanos esquecêram-se de destruir os seus canhões, que foram utilizados pelos mexicanos para devastar o interior do pátio da missão
Recantos e memórias